terça-feira, 23 de dezembro de 2008

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

“Bioetanol de cana-de-açúcar”, compilação didática

Subsidiar um diálogo internacional com base científica visando à criação e o desenvolvimento de um mercado mundial de biocombustíveis, tendo como base uma compilação didática que mostre as vantagens econômicas, sociais e ambientais do etanol da cana-de-açúcar produzido no Brasil.

Essa é a proposta do livro Bioetanol de Cana-de-Açúcar – Energia para o Desenvolvimento Sustentável, organizado por Luiz Augusto Horta Nogueira, professor do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá. A publicação está disponível para consulta gratuita na internet.

“A obra aborda as principais características, limitações e vantagens do etanol produzido no Brasil. Ela mostra, por exemplo, estudos que comprovam que o bioetanol é o combustível que melhor atende as necessidades de redução de gases do efeito estufa, podendo ele ser introduzido, sem grandes problemas, na matriz energética de quase todos os países”, disse Nogueira à Agência FAPESP.

Segundo ele, essas e outras questões são abordadas em bases competitivas. “Nesse momento em que a humanidade se preocupa em obter alternativas sustentáveis para seu desenvolvimento energético, destacamos que o Brasil vem desenvolvendo e aperfeiçoando, há mais de 80 anos, uma alternativa energética que pode servir de modelo para outros países.”

A idéia é que a obra também sirva de referência para o estudo dos potenciais da produção do biocombustível a partir da cana-de-açúcar em condições tecnológicas e climáticas adequadas, especialmente nos países tropicais e subtropicais.

O conteúdo do livro tem como base artigos e estudos científicos de diversos autores brasileiros, além da literatura técnica disponível e levantamentos específicos sobre o setor realizados pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e pelo Escritório Regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

O trabalho contou ainda com a participação de pesquisadores do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e de representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“O CGEE acumula uma série de textos e estudos sobre o etanol, realizados principalmente em 2004 e 2005, que geraram conhecimentos de ponta que agora estão se convergindo nessa publicação”, disse Lúcia Melo, presidente do CGEE durante o lançamento do livro no fim de novembro, na capital paulista.

“Os textos foram propositalmente produzidos em uma linguagem simples, em três idiomas, para que o Brasil possa participar, de modo mais intensivo, do esforço internacional de uso da biomassa. A obra ajudará a difundir a idéia de que o país tem condições reais de ampliar sua produção de etanol a partir da cana-de-açúcar a partir de uma agenda comum entre os países”, explicou.

A publicação está dividida em nove capítulos: “Bioenergia e biocombustíveis”, “Etanol como combustível veicular”, “Produção de bioetanol”, “Co-produtos do bioetanol de cana-de-açúcar”, Tecnologias avançadas na agroindústria da cana-de-açúcar”, “Bioetanol de cana-de-açúcar no Brasil”, Sustentabilidade do bioetanol de cana-de-açúcar: a experiência brasileira”, “Perspectivas para um mercado mundial de biocombustíveis” e “Uma visão de futuro para o bioetanol combustível”.

AVIÕES FLEX

Além de descrever as características biológicas da cana-de-açúcar como planta, as técnicas de produção do álcool e de seus co-produtos como a bioeletricidade, o livro aponta que, em 2007, o agronegócio da cana movimentou cerca de R$ 41 bilhões no Brasil, quando foram produzidos 30 milhões de toneladas de açúcar e 17,5 bilhões de litros de bioetanol no país.

A produção de cana-de-açúcar saltou de 88,92 milhões de toneladas na safra 1975/76 para 489,18 milhões de toneladas na safra 2007/08. A cultura da cana ainda ocupa, no entanto, apenas 9% da superfície agrícola do país, perdendo em área cultivada para a soja e milho.

No Brasil o consumo do etanol produzido da cana-de-açúcar já substitui metade da procura pela gasolina e seu custo é competitivo mesmo sem os subsídios que antigamente viabilizaram a produção do biocombustível. Esses incentivos tiveram início com a criação do Proálcool, programa lançado no país em meados da década de 1970 visando a reduzir a dependência da importação de petróleo.

“Considerações econômicas da indústria do açúcar também pesaram no estabelecimento do Proálcool, porém preocupações de caráter ambiental e social não tiveram papel significativo na ocasião”, lembra o físico José Goldemberg no prefácio do livro.
“Já nos Estados Unidos, o grande produtor mundial de etanol com base no milho, o programa é mais recente e suas justificativas são a eliminação de aditivos da gasolina e a redução das emissões de gases que provocam o aquecimento global”, acrescenta Goldemberg, pesquisador do Centro Nacional de Referência em Biomassa, vinculado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

Nos países da Europa Ocidental, por sua vez, o etanol é produzido a partir do trigo e da beterraba, sendo que o custo do biocombustível é de duas a quatro vezes mais elevado do que no Brasil e subsídios internos e barreiras alfandegárias protegem as indústrias locais, impedindo a importação de etanol brasileiro.
Goldemberg alerta ainda que o que se pode chamar de “solução brasileira para os problemas dos combustíveis fósseis”, caracterizada pelo uso do etanol de cana-de-açúcar para substituir a gasolina, não é exclusivo do Brasil e também está sendo adotado em outros países produtores de cana, dos quais existem quase cem no mundo.

A obra aborda ainda assuntos como “O etanol em motores aeronáuticos”, “As possibilidades do açúcar orgânico”, “Evolução da produção de eletricidade nas usinas brasileiras”, “Primeiros passos da etanolquímica no Brasil” e “Melhoramento genético e disponibilidade de cultivares”. De acordo com a publicação, o uso do etanol hidratado como combustível aeronáutico é uma realidade comum no interior do Brasil, o que comprova o bom desempenho desse combustível em motores alternativos.
Desde 2005 a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) fornece kits para adaptação de aviões agrícolas, de gasolina para etanol, e atualmente está desenvolvendo sistemas flex fuel para motores aeronáuticos, visando a atender aviões agrícolas de pequeno porte com motor a pistão, cuja frota estimada no Brasil é de 12 mil aeronaves.

“O uso do etanol hidratado permite a expressiva economia operacional, pois reduz em mais de 40% o custo por quilômetro voado e incrementa em 5% a potência útil do motor”, destaca o livro.

Click na imagem para ter acesso ao conteúdo na íntegra de Bioetanol de Cana-de-Açúcar – Energia para o Desenvolvimento Sustentável.
Fonte:Agência Fapesp.

Matéria-prima é diferencial para 2ª geração de etanol

Bagaço e palha de cana-de-açúcar em grande quantidade e a preço muito baixo dão vantagem para o Brasil liderar a produção de etanol de segunda-geração, apesar de ainda faltar investimento e incentivo à pesquisa e tecnologia

Mesmo com todo o investimento internacional em pesquisas e tecnologias avançadas, o Brasil tem condições de liderar o mercado de biocombustíveis de segunda geração, mais especificamente o de etanol, afirma o pesquisador do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (Cetae/IPT), Ademar Ushima. A explicação é a abundância de matéria-prima e a baixo preço.

“Hoje o Brasil produz o etanol mais barato do mundo e também produz a biomassa mais barata do mundo. Tanto o açúcar, quanto o bagaço ou a palha no Brasil são os mais baratos do mundo - e a quantidade gerada é muito grande”, explica.

Apesar disso, Ushima diz que as plantações de cana-de-açúcar no país possuem um potencial ainda inexplorado. “Tanto o bagaço quanto a palha que fica no campo podem ser aproveitados para a produção de etanol de segunda geração ou de pellets – compensados que servem de combustível para caldeiras ou lareiras, altamente consumidos em países como os da Europa”.

Hoje boa parte dessa biomassa é desperdiçada, mas o pesquisador afirma que cada tonelada de cana-de-açúcar plantada no Brasil pode gerar uma receita de R$ 25 em energia elétrica; R$ 32,80 em pellets; R$ 59,00 em metanol e R$ 44,80 em etanol, se todos os resíduos forem aproveitados na colheita.

Para a produção de etanol, há duas grandes rotas tecnológicas desenvolvidas no Brasil. Uma delas é a hidrólise, que pode ser enzimática ou ácida. “A tendência mundial está indo para a hidrólise enzimática”, afirma Ushima. Ele diz que, as pesquisas realizadas no Brasil são bastante intensas nesse sentido, com várias equipes trabalhando nessa linha, desde a área de enzimas até a de reatores e de genética.

“O Brasil está bem representado em termos tecnológicos na linha de hidrólise”, avalia. A liderança nesse setor, no entanto, cabe aos Estados Unidos. “Eles investem muito mais recursos do que o Brasil, mas é compreensível”, observa.

Ushima destaca a criação do Centro Tecnológico do Etanol, em Campinas, São Paulo, onde deverá ser construída uma unidade-piloto para realização de testes com as tecnologias desenvolvidas nos laboratório das universidades brasileiras. “Essa unidade-piloto vai ser fundamental para provar se essas tecnologias realmente são passíveis de serem transferidas para a indústria”, comemora.

Rota térmica

Uma outra linha de estudo para produção de etanol de segunda geração é a rota térmica, pela qual se gaseifica a biomassa para geração de combustíveis líquidos. Ushima é um dos poucos pesquisadores que atuam na área térmica no país e diz que as pesquisas nesse campo no Brasil estão atrasadas em relação à enzimática. “Existem poucos grupos estudando e os recursos colocados também são menores. Perdemos na ordem de seis para um”, lamenta.

O pesquisador explica que na Europa a rota térmica recebe um incentivo muito grande e acredita que a visão brasileira sobre essa linha de estudo precisa mudar porque, segundo ele, as duas tecnologias apresentam o mesmo potencial de geração de etanol a partir da biomassa. “Ninguém sabe ainda qual será o modelo que irá prestar, porque ninguém conseguiu desenvolver a linha completa de conversão de biomassa até o etanol, seja na parte de hidrólise ou na de gaseificação”. Ushima diz que isso só será provado no momento em que se conseguir construir uma unidade de demonstração.

A Alemanha é o país que está mais avançado nesse aspecto, pois já construiu uma unidade na área térmica que entrará em operação no próximo ano. “É uma unidade de demonstração, que ficará um ano em processo de comissionamento e que permitirá testar a tecnologia, avaliando os custos reais da unidade. Se obtiver sucesso, poderá ser implantada em vários locais do mundo”.

No Brasil, a previsão é de que se chegue ao processo completo de produção de etanol de segunda geração dentro de cinco anos. Ushima diz que ainda faltam pesquisadores e investimentos na área de desenvolvimento, mas garante que, em termos de matéria-prima, inegavelmente é o país com o menor custo da biomassa no mundo.

Crédito: Eduardo César/Revista Fapesp
Fonte