Os preços do álcool no mercado interno caíram tanto nesta entressafra, que desde o final da semana passada está compensando às usinas venderem ao recessivo mercado americano do que no Brasil. Depois de meses sem negócios, foram fechadas exportações de cerca de 30 milhões de litros aos Estados Unidos entre a última sexta-feira e ontem, a US$ 315 o metro cúbico, o equivalente a R$ 0,708 por litro (ao câmbio de R$ 2,25).
O valor é, pelo menos, 5% maior do que o valor que vinha sendo negociado no mercado interno (R$ 0,67). Mas se considerar o preço da última sexta-feira do indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) (R$ 0,6396), exportar aos Estados Unidos está 10% mais vantajoso do que vender no mercado brasileiro.
A mudança de rumo no mercado de curto prazo do álcool se deveu a uma série de fatores. Segundo Tarcilo Rodrigues, da Bioagência, tradings que realizou as operações de venda aos EUA, a combinação de preços baixos no Brasil com a recuperação das cotações da gasolina nos Estados Unidos, foi decisiva para a abertura antecipada da "janela de exportação", que normalmente ocorre no verão americano, a partir de maio. "Se essa condição persistir, há potencial de exportação de 200 milhões de litros no mês de abril", acrescenta Rodrigues.
Miguel Biegai, da Safras & Mercado, explica que o galão de gasolina (3,785 litros) foi negociado ontem a US$ 1,60 no mercado americano (Nymex), valor 6% acima de 6 de março. Com isso, o etanol também reagiu. De US$ 1,32 na primeira semana do mês, o preço do galão de etanol na Bolsa de Chicago (CBOT) fechou ontem em US$ 1,49, alta de 12,8%.
Apesar da melhora no mercado americano, as expectativas são de menor exportação de etanol neste ano. A estimativa da Bioagência é de cerca de 3,3 bilhões de litros sejam embarcados na próxima safra para Estados Unidos, Ásia, Europa e África.
Por outro lado, em plena entressafra no Centro Sul do Brasil, o álcool no mercado cai interno pela sexta semana consecutiva, queda que só se equipara aos níveis da entressafra de 2004, quando o litro do hidratado chegou a valor R$ 0,32. "Naquele ano, havia uma forte expectativa de que a produção de álcool na safra seguinte seria muito grande, e as usinas começaram a vender o produto com receio de os preços despencarem mais à frente", recorda Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
Com quatro usinas em recuperação judicial e mais de uma dezena em dificuldades financeiras, o setor sucroalcooleiro do Brasil vive séria crise de crédito. Para fazerem caixa, muitas eliminaram a entressafra, não pararam para manutenção e continuaram a moagem de cana e a produção de álcool. Outras anteciparam em mais de um mês o início da nova safra. A estimativa do mercado é de que 16 usinas sequer pararam de moer e outras 20 já iniciaram a safra 2009/10, com mais de um mês de antecedência. A primeira usina do Centro Sul do País a iniciar a safra 2009/10 foi a Pau D‘Alho, de Ibirabema (SP). A usina começou a moer cana em 13 de fevereiro, antes do carnaval, após 45 dias de manutenção em seus equipamentos, tempo que normalmente é de 100 a 120 dias.
Mas, Marcos Jank, presidente da Unica, pondera que, apesar da queda do preço, os fundamentos para o etanol continuam positivos, pois não há um excesso de oferta do produto, mas uma venda excessiva para fazer caixa. Ele espera que a distorção seja corrigida na próxima safra, com a liberação de recursos para estocagem. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou no início do mês a aprovação de uma linha de R$ 2,5 bilhões de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estocagem de 5 bilhões de litros na safra 2009/10. A expectativa do setor é que os recursos estejam disponíveis a partir de maio deste ano. A medida pode até refletir em um equilíbrio maior no mix de produção da próxima safra, que tende a ser mais açucareiro, por conta das altas cotações internacionais desta commodity. "A medida permitirá que a próxima safra não seja tão açucareira, pois passa a ser interessante a estocagem do etanol com financiamento público", diz Jank.
Ainda não foram definidas quais as instituições financeiras que vão operar a linha, mas a expectativa do setor é que não seja somente o Banco do Brasil.
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sexta-feira, 27 de março de 2009
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