segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Nova fronteira do diamante verde

A notícia de que o Planalto estuda a criação de um comitê de incentivo à produção de biocombustíveis em Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul representa um avanço no sentido do reconhecimento da importância estratégica do coração do Brasil para toda a indústria de energia renovável do País. Essa idéia poderá produzir frutos em abundância, caso o comitê seja integrado pela representação legítima da cadeia produtiva do setor e não se transforme num mero aparelho burocrático sem poder decisório.

Com clima e solo de qualidades, Goiás está se transformando rapidamente na maior referência nacional, graças ao seu extraordinário potencial para a produção de energia limpa voltada ao suprimento das demandas por diversificação energética. O nosso Estado possui hoje uma importância fundamental no tocante ao fornecimento de biocombustíveis, principalmente o etanol, para equacionar uma parte significativa do abastecimento mundial de energia, com a substituição dos derivados do petróleo e a conseqüente redução dos danos ambientais.

O fato de o governo oferecer incentivos fiscais e o Estado registrar alta produtividade na cana-de-açúcar, com 80 toneladas por hectare tem atraído pesados investimentos com novos projetos de instalação de usinas e a modernização das unidades já existentes. Somente no ano passado houve acréscimo de 35,5% na produção goiana de cana e incremento de 43,6% na área plantada em comparação com 2006, conforme o IBGE. Dos investimentos previstos no Estado para o período de quatro anos, 86 projetos são de produção de açúcar e álcool e somam R$ 12,76 bilhões, ou 48,74% do total.

Maior produtor e processador de cana-de-açúcar do mundo, o Grupo Cosan, por exemplo, está construindo em Jataí a primeira de três usinas que implantará no Estado, sendo as demais, em Paraúna e Montividiu, totalizando R$ 1,35 bilhão de investimentos. Juntas elas vão ampliar em 25% a atual capacidade de moagem da companhia, que é de 44 milhões de toneladas por safra, passando para 55 milhões de toneladas. Já a Toyota projeta a construção de uma usina de etanol em parceria com a Petrobras e os produtores de cana da região de Itumbiara com investimentos que podem chegar a US$ 200 milhões e previsão de moagem de cerca de 4 milhões de toneladas de cana. Por sua vez, o Grupo São Martinho - segundo maior do setor sucroalcooleiro do País - constrói a Usina Boa Vista, em Quirinópolis com investimento de R$ 406 milhões e previsão de que até 2010 processe, em sua capacidade máxima, 3 milhões de toneladas de cana.

No entanto, esse avanço acelerado na produção de etanol em Goiás deve substancialmente à qualidade da liderança, representada pelo Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool de Goiás (Sifaeg). A entidade tem desempenhado um papel soberbo, tanto na organização profissional do setor, quanto na ação coordenada com o restante do País, visando tornar o etanol efetivamente uma commodity. Ressalte-se ainda os esforços empreendidos de forma continuada, no sentido de equacionar todos os gargalos ainda existentes,

Por outro lado, a construção da ferrovia Norte-Sul, face ao seu auxílio estratégico no escoamento da produção sucroalcooleira tem exercido grande estímulo aos novos investimentos no setor. A propósito, o governo do Estado vem promovendo diversas iniciativas com o objetivo de assegurar maior adensamento econômico na região Norte de Goiás, de forma sustentável, gerando mais cargas para a ferrovia, mais emprego e renda e melhores condições de vida para a população. Não obstante, através do ramal Sudoeste, ela promoverá a integração completa do Estado aos portos exportadores do Norte e do Sudeste do País.

Numa escala menor, porém na mesma tendência de crescimento, a fabricação de biodiesel também ganha força em Goiás. Enquanto a base do etanol é a cana-de-açúcar, o biodiesel produzido em Goiás deriva principalmente da soja, da mamona, do dendê e até mesmo do pinhão-manso, que tem enorme potencial de extração de óleo, mas ainda pouca tecnologia empregada. As três empresas que processam o biocombustível, instaladas em cidades goianas, já respondem por 15% da capacidade de produção nacional, segundo a Agência Nacional do Petróleo.

Portanto, diante da febre mundial do etanol, que certamente deverá virar uma commodity dentro de poucos anos, nesse processo de substituição do petróleo como principal combustível da economia internacional, Goiás se apresenta como o grande celeiro do diamante verde. Precisamos assumir essa condição e nos prepararmos intensamente para os novos desafios dessa matriz energética.

Daniel Messac é secretário extraordinário de Estado e deputado estadual licenciado, e-mail: dmessac@hotmail.com

Diário da Manhã

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