Relegado a segundo plano durante toda a década de 1990 e início dos anos 2000, o mercado de álcool combustível encontrou novamente seu rumo e engata uma vigorosa rota de crescimento no Brasil, sustentado, sobretudo, pelo aumento do consumo do combustível no país, com as vendas dos carros flex. E as exportações do etanol, que eram praticamente traço nas estatísticas dez anos atrás, dão sinais de recuperação, puxadas pela demanda americana, mesmo com forte lobby internacional contra os biocombustíveis.
"Os EUA são, pelo segundo ano consecutivo, o principal destino do álcool brasileiro", diz Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro. A expectativa é de que as usinas exportem 4,8 bilhões de litros na safra 2008/09, alta de 39% sobre o ciclo anterior. O mercado americano deverá absorver dois terços deste volume. União Européia e Ásia, sobretudo o Japão, que tem interesse em produzir o álcool em parceria com o Brasil, respondem pelo restante.
Apesar de serem os maiores produtores mundiais de etanol, os EUA não devem conseguir suprir sua demanda interna, estimada em 34 bilhões de litros. A produção naquele país está estimada em cerca de 30 bilhões de litros. A escalada dos preços do milho, principal matéria-prima para o etanol americano, tornou o álcool brasileiro super competitivo naquele mercado, mesmo com a tarifa de US$ 0,54 por galão e 2,5% de tarifa ad valorem. O álcool chega nos EUA a US$ 2,67 por galão. É praticamente mesmo valor que os americanos gastam para produzir o álcool deles, em torno de US$ 2,70 por galão. Os custos vão subir ainda mais lá, com as fortes chuvas inundando as lavouras de milho.
Nastari não acredita que o governo americano derrube a tarifa de importação do etanol, pelo menos no curto e médio prazos. Mas considera que os EUA poderão estimular a entrada de álcool de outros mercados, com a criação de salvaguardas, para acirrar a competitividade naquele mercado.
Mas, apesar da combinação de fatores positivos para o mercado brasileiro de álcool - consumo aquecido no país e recuperação das exportações -, as usinas operam atualmente no vermelho. Os custos de produção do álcool hidratado estão em R$ 0,7126 (o litro). No mercado paulista, o produto está cotado a R$ 0,63.
Para Nastari, há falhas na comercialização do produto no país, que vão desde a oferta maciça do combustível durante os sete meses de safra, a falta de infra-estrutura para armazenagem do álcool durante a entressafra, além da necessidade de criação de liquidez para o mercado futuro do etanol na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). "Há um cenário ajustado de oferta e demanda para o álcool no país. Mas essas deficiências na comercialização respondem pela forte sazonalidade dos preços ."
Para esta safra, a Datagro estima uma produção de álcool de 26,71 bilhões de litros no Brasil, aumento de 19,2% sobre o ciclo anterior. O consumo no mercado interno está estimado em 21 bilhões de litros. Há dois anos, o consumo era de 1 bilhão de litros mensais. Neste ano, gira em torno de 1,8 bilhão de litros, um salto de 80%.
Mônica Scaramuzzo
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quinta-feira, 19 de junho de 2008
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