terça-feira, 17 de junho de 2008

Etanol para o transporte de massa

Especialistas propõem nova agenda para o planejamento urbano, que privilegie o desenvolvimento sustentável

O transporte coletivo é a fonte mais importante de poluição nas grandes cidades. Essa é uma das argumentações do pesquisador José Roberto Moreira para defender o uso do etanol nos veículos de transporte de massa. Nesta segunda-feira (16), ele participou, em Curitiba, do I Seminário Internacional sobre Aquecimento Global nas Cidades, apresentando a tecnologia para substituir o diesel pelo álcool. Nos debates, que prosseguem até o final da tarde hoje, especialistas propõem uma nova agenda para o planejamento urbano, que privilegie o desenvolvimento sustentável. O evento é promovido pelo Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV).

Moreira é coordenador de vários relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) e está envolvido em projetos de vários países que estão mais avançados no uso do etanol como substituto do diesel no transporte coletivo. A Suécia que, há 16 anos, adotou o álcool em sua frota de ônibus, lidera a aplicação do combustível renovável. "O desafio era a barreira econômica, pois, há 16 anos, o etanol era mais caro que o diesel. Mas, para eles (o governo sueco) o valor da saúde da população era maior e, por isso, decidiram subsidiar o produto para competir com o diesel", avaliou o pesquisador. Moreira preside o Conselho Gerenciador do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio). Itália, Inglaterra e China, também estão substituindo o diesel por etanol.

Se na Suécia - que não produz nenhuma gota de etanol e importa o produto brasileiro - a experiência foi bem-sucedida, não haveria por que não dar certo no Brasil: maior produtor mundial de álcool a partir da cana-de-açúcar. "É uma questão quase que, exclusivamente, de decisão política", ponderou Moreira. Os ônibus movidos a etanol têm motor "ligeiramente diferente" dos veículos convencionais e, segundo o pesquisador, é cerca de US$ 10 mil mais caro porque ainda não é fabricado em grande escala.

No Brasil, um ônibus a álcool está em teste em São Paulo, desde dezembro de 2007, como parte das pesquisas da USP financiadas pela União Européia. Moreira contou que o veículo rodará por mais um ano e meio. A expectativa é que governos municipais, inclusive Curitiba, despertem para essa alternativa.

Moreira tem suas ressalvas sobre a aposta do governo federal no programa de biodiesel. Ele explicou que, por enquanto, a mistura de óleos vegetais no diesel está limitada a 2%, o que representa uma redução de 30% a 40% na emissão de particulados (poluentes). A queima do etanol como combustível (95% álcool e 5% aditivo), além de não liberar enxofre como o diesel, não emite partículas poluentes.

Uma boa notícia, de acordo com Moreira, é que a tendência é de expansão no uso do etanol na frota geral de veículos do Brasil. Atualmente, o etanol já representa 51% do consumo de combustíveis no País, superando o uso da gasolina.

Fonte: Andréa Lombardo - Folha de Londrina

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