sexta-feira, 30 de maio de 2008

Brasil permanecerá como maior produtor e exportador de etanol e cana nos próximos dez anos

O Brasil é e permanecerá como maior produtor e exportador de etanol e cana de açúcar, o que permitirá que determine os preços mundiais em 2017.

A participação da cana-de-açúcar destinada à fabricação do biocombustível brasileiro passará de 51% em média, durante o período 2005-2007, para 66% nos próximos dez anos. Os dados fazem parte do relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) divulgado nesta quarta-feira.

Segundo o documento, a participação do Brasil nas exportações mundiais de oleaginosas deve crescer dos atuais 30% para 40% em 2017, quando o país vai facilmente ultrapassar os Estados Unidos como maior vendedor desses produtos no mundo.

O relatório prevê ainda que, graças à esperada alta de preços, haverá uma realocação de terras para o plantio de grãos mais rentáveis. Áreas antes destinadas a pastagens e novas técnicas agrícolas permitirão ao mundo ampliar sua produção de oleaginosas em 28% até 2017. A maior parte dessa expansão, segundo o estudo, será concentrada em Brasil, Estados Unidos e Argentina.

Em 2017, a China será o segundo maior importador de óleos vegetais, atrás apenas dos Estados Unidos. A indústria de esmagamento de grãos chinesa deve crescer em média 3,5% ao ano daqui para frente, num ritmo um pouco mais lento do que os 8,5% anuais registrados nos últimos dez anos.

Ainda citando o Brasil, o relatório afirma que, graças a sua abundância de terras, à disponibilidade de capital e de tecnologia, o país deverá responder por 30% das exportações mundiais de carne em 2017

"Com o comércio internacional se recuperando de recentes episódios de problemas sanitários neste mercado, um pequeno número de grandes exportadores (de carnes) de Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália e Brasil continuaram dominantes neste mercado".

Pelas projeções do relatório, a produção mundial de carnes deve crescer em média 2% ao ano, apesar da alta de custos, provocada pela disparada dos preços de soja e milho, que servem como ração animal. Em média, segundo dados do Departamento Agrícola americano, para cada quilo de carne de frango, são necessários 2,6 quilos de ração. No caso dos suínos, a relação é de 6,5 quilos de ração para um quilo de carne. E, nos bovinos, de 7 para 1.

Alta dos alimentos virá da pressão dos biocombustíveis

Um terço da alta dos produtos agrícolas esperada para o período de 2008-2017 em relação aos dez anos anteriores virá da pressão dos biocombustíveis.

"A maior parte do consumo de biocombustíveis na OCDE é reflexo dos subsídios que recebem", diz o relatório. Tanto o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, como o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, criticaram as atuais políticas de subsídios de biocombustíveis e pediram uma mudança de orientação.

Gurría argumentou que os dispositivos atuais não servem para cumprir os objetivos que os países ricos estabeleceram com suas políticas de ajuda aos biocombustíveis.
- O rápido aumento da demanda de biocombustíveis, amplamente gerada pelas políticas, necessita de uma revisão - acrescentou antes de apostar que ´enfoques alternativos oferecem maiores benefícios´.

Ele citou, em particular, os apelos para reduzir a demanda energética e as emissões causadores do efeito estufa, suprimir aos entraves ao comércio de biocombustíveis e acelerar o desenvolvimento de uma segunda geração destes, que não utilizem produtos alimentícios.

O secretário-geral da FAO, por sua vez, advertiu que a produção de biocombustíveis vai dobrar entre 2008 e 2017 e, como conseqüência, ´as pressões sobre a agricultura vão aumentar´. Segundo ele, os países em desenvolvimento enfrentam ´políticas de distorção´ praticadas no mundo rico e que afetaram os preços dos alimentos, insistindo que não se pode repetir com os biocombustíveis ´os erros do passado´.

Preços altos

Ainda de acordo com o relatório da OCDE, os preços dos produtos agrícolas vão recuar progressivamente nos próximos dez anos, mas continuarão entre 10% e 50% acima dos valores da década passada. ,No caso de óleos vegetais, ressalta o texto, a alta pode chegar a 80%. Isso empurrará milhões de pessoas para a fome e a desnutrição, requerendo ajuda humanitária urgente.

Na terça-feira, a FAO reúne em Roma 40 chefes de Estado e de governo, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para discutir a crise alimentar no mundo e medidas de emergência. Um dos temas são os biocombustíveis.

Fonte: O Globo

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