Os biocombustíveis estão sob ataque. E não só por obra de Fidel e Chávez. Crescem as críticas de organismos internacionais de que a corrida para a substituição de derivados de petróleo por sucedâneos renováveis produz alta dos alimentos e problemas ambientais.
Todos os dias aparece alguém em algum fórum internacional para denunciar que o Brasil está ajudando a devastar a Amazônia ou que os canaviais estão tomando áreas antes destinadas à produção de grãos.
O relatório da FAO (Food and Agriculture Organization), ligada à ONU, que deve sair nesta semana, apontará redução dos estoques mundiais de alimentos a seu nível mais baixo em 25 anos.
Em relatório da ONU, o economista suíço Jean Ziegler, que já combateu grandes corporações, agora afirma que essa produção de biocombustíveis é “um crime contra a humanidade”.
Até o Fundo Monetário Internacional advertiu que a iniciativa pode estar “reduzindo a área agricultável e a oferta de água”. Ontem o Guardian, de Londres, publicou matéria (O apetite do Ocidente por biocombustíveis causa fome no mundo pobre) em que descreve uma profusão de horrores produzidos pelos programas de etanol e biodiesel.
A Renewable Fuels Association informa que, só nos Estados Unidos, há 129 unidades produtoras de etanol, das quais cerca de 50% começaram a produzir em 2005. Lá, a matéria-prima é o milho, que tem enormes subsídios do Tesouro americano. Mais de metade da gasolina vendida naquele país contém certa dose de etanol.
Depois que o presidente Bush lançou o programa do etanol, que se propõe a produzir 132,5 bilhões de litros etanol em 2017, os preços do milho dispararam, levando com eles os da soja, do trigo e das carnes. (Veja gráficos.) Ninguém ignora o impacto da inflação no México depois que saltaram os preços da tortilla (alimento básico), que é feita de milho.
Os preços não estão em alta só porque os Estados Unidos passaram a produzir etanol de milho, mas também porque apenas na Ásia, a cada ano, mais de 50 milhões de bocas, antes excluídas do sistema, se abrem para o mercado de consumo.
A maior parte das críticas não é sequer honesta. Usa a onda para encorpar velhas jogadas protecionistas. Além disso, o galope dos preços tem tudo para empurrar ainda mais a produção, tanto de alimentos como de matérias-primas para biocombustíveis.
A guerra de ecologistas e defensores de pobres e oprimidos contra os biocombustíveis está tomando corpo. O esforço para reduzir a dependência do petróleo (agora perto dos US$ 100 por barril) e garantir energia limpa parece sob risco. É preciso mais do que lero-lero oficial para defender o etanol e o biodiesel, dois produtos em que o Brasil é campeão.
Celso Ming
Fonte: O Estado de S. Paulo
sexta-feira, 16 de maio de 2008
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