A decisão brasileira, em 1975, de promover a substituição do petróleo pela chamada energia limpa e renovável do álcool da cana-de-açúcar jamais recebeu o aplauso da indústria do petróleo.
O combustível da cana, comprovadamente o melhor substituto da gasolina, é o energético mais barato de todo o mundo.
Não obstante, mesmo com a geração de cerca de 1 milhão de empregos e expectativa de gerar, com o bagaço, o correspondente a toda energia gerada por Itaipu, tem recebido acerbas críticas de diversas entidades internacionais, governos e até de ambientalistas (o álcool reduz em mais de 80% a emissão de gases do efeito estufa), embora não possua todas as impurezas conhecidas dos derivados do combustível fóssil.
Na segunda quinzena de abril, o álcool hidratado, utilizado nos veículos flex (90% da venda dos carros novos), está sendo comercializado na média das bombas dos postos de abastecimento a R$ 1,00/litro. Nas indústrias alcooleiras, as distribuidoras retiram o álcool, com o pagamento de R$ 0,70/litro.
Ademais, o álcool contribui, decisivamente, para a sensível melhoria das condições ambientais, como atesta a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), em São Paulo, e da saúde da população na assertiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar das evidências assinaladas, existe uma verdadeira, orquestração liderada pela indústria do petróleo e pelo cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), contrariamente à expansão do uso do álcool, diante dos futuros cenários dos seus novos empregos na alcoolquímica, indústria do plástico, motores de aviões e gaseificação.
Nos idos de 1973, quando foi elaborado o primeiro estudo sobre a produção alcooleira, semente do Proálcool, denominado: “A fotossíntese como fonte de energia”, sob a coordenação dos engenheiros Cícero Junqueira Franco e Lamartine Navarro Júnior, a situação não era diferente.
Com o petróleo superando US$ 120/barril e perspectivas de substanciais aumentos, a potencialidade do álcool brasileiro ameaça o gigantismo da economia do petróleo.
Para o geólogo, Márcio Rocha, antigo colaborador da Petrobrás, o cru baterá US$ 200, no fim de 2009.
Outra denúncia, que vem se acentuando, é aquela que as áreas agrícolas, destinadas ao cultivo de gêneros alimentícios, está sendo convertida à produção de matéria prima para a indústria de combustíveis renováveis, com críticas à expansão brasileira. Desta forma, promovendo o aumento do valor dos alimentos e que mais pessoas, em decorrência, passam fome.
O paradoxo existente é que as mais acentuadas críticas são oriundas das nações, que mais subsidiam a sua agricultura e criam obstáculos às nossas exportações, criando reservas de mercado.
As condições de produção alcooleira nos Estado Unidos da América (EUA) é diversa da brasileira. Na grande nação americana, as destilarias consomem nas caldeiras o gás natural e usam o milho, como matéria prima, além do combustível produzido (álcool) custar quatro vezes mais.
É impressionante, como afirmava o ex-ministro, Roberto Rodrigues, em recente palestra, como o álcool da cana brasileira não é poupado nas críticas, como se o seu uso perturbasse a oferta de alimentos, o que não é o caso.
As lideranças governamentais dos países americanos, igualmente, desconhecem as insofismáveis virtudes da agroenergia (álcool, biodiesel, bioeletricidade), como a menor emissão de dióxido de carbono (CO²). Na recente conferência anual do BID, foram apresentadas inúmeras restrições à energia renovável. No ano passado, Fidel Castro escreveu que os biocombustíveis levariam a fome ao mundo. Para o jornal New York Times: “O álcool eleva os preços dos alimentos e agrava o aquecimento global”.
Tudo isso acontece, quando as emissões globais do CO², derivados da queima de combustíveis fósseis, já superam 8 bilhões de toneladas.
Na década de 1985/1995, o consumo do álcool, entre nós, superou o consumo da gasolina automotiva, extraída do petróleo. Há dias, o mesmo sucedeu, com as vendas, no mês de março, em torno de 1 bilhão de litros de álcool anidro (25% misturado à gasolina). Já a gasolina alcançou 990 milhões de litros. Com apenas 1% das terras agricultáveis da Nação, na safra já em curso de 2008/2009, a produção alcooleira deverá superar a soma de 25 bilhões de litros, com exportações superiores a 5 bilhões de litros e geração elétrica, com o bagaço, de cerca de 3 mil MW, adicionais à atual produção.
O Brasil necessita apresentar à comunidade internacional provas convincentes das inquestionáveis vantagens da produção alcooleira para o nosso desenvolvimento sustentável e às demais nações, inclusive aos produtores do petróleo, a fim de que preservem as suas limitadas reservas por maior tempo de duração.
Outrossim, com o álcool e o biodiesel o Brasil poderá lograr, efetivamente, a decantada auto-suficiência no consumo de combustíveis, quando o consumo aumenta e o déficit na balança comercial do petróleo e derivados importados já está estimado em US$ 10 bilhões, neste ano. A balança comercial teve superávit de US$ 260 milhões na terceira semana de abril, resultado 79% menor que o do mesmo período de 2007, quando foi de US$ 1,2 bilhão e 18% inferior ao da segunda semana de abril, de US$ 319 milhões. No acumulado do ano, o superávit foi de 4,2 bilhões, de janeiro até a terceira semana de abril, 64% menor que do mesmo período de 2007, que foi de US$ 11,8 bilhões, consoante Agência Estado.
Mesmo porque, é prematuro, ainda, proclamarmos que as reservas brasileiras do petróleo, poderão ser exploradas, diante das megajazidas encontradas.
Autor: Luiz Gonzaga Bertelli
Presidente Executivo do CIEE
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário