quarta-feira, 23 de julho de 2008

Bagaço deve gerar energia, não etanol, diz especialista

O uso do bagaço de cana para produção de mais etanol não deve ser prioridade para o Brasil, segundo o especialista Luiz Augusto Horta Nogueira, da Universidade Federal de Itajubá. Muito mais valioso para o País, segundo ele, é o aproveitamento da biomassa para produção de eletricidade, como já é feito em muitas usinas. "O Brasil, hoje, precisa muito mais de energia elétrica do que de combustível líquido", afirmou Nogueira, em palestra na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas.

A tecnologia para produzir etanol de celulose, presente no bagaço de cana e outras formas de biomassa, já existe há décadas, mas ainda não é economicamente viável. Países desenvolvidos, principalmente os EUA, estão investindo pesado em pesquisas para aprimorar a técnica da hidrólise, que permite a quebra da celulose para fermentação alcoólica.

Muitos cientistas alertam que o Brasil poderá ficar atrasado nessa tecnologia, chamada de "etanol de segunda geração". Segundo Nogueira, porém, não há motivo para preocupação. "O Brasil já tem o etanol de segunda geração: é o etanol de cana, 100% renovável", disse. "Esse discurso de que a celulose é a segunda geração nos impinge como colonizados."

A hidrólise, segundo ele, traria um aumento apenas marginal na eficiência energética da cana, que já atende à demanda por biocombustível no País.

"A hidrólise é muito mais importante para outros países", concordou o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa Informática, que moderou o debate sobre o tema. Ele citou o caso dos EUA, onde o etanol é produzido com base no milho, muito menos eficiente do que a cana. "A opção por energia elétrica talvez seja, de fato, muito mais viável para nós."

Muitas usinas já usam o bagaço para produção interna de energia elétrica, queimando-o em caldeiras para produzir vapor e movimentar turbinas, que é consumida na própria linha de produção. Algumas até vendem o excedente para a rede elétrica - mais de 1 milhão de quilowatts só no Estado de São Paulo, segundo o físico José Goldemberg, especialista em energia. Mas é possível produzir muito mais: "Temos uma Itaipu adormecida nos canaviais", afirmou, em entrevista coletiva.

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